domingo, 5 de setembro de 2010

Júri Popular absolve irmãos no caso Serrambi.

O júri popular que decidiu pela absolvição do irmãos Marcelo e Valfrido Lira acabou no início da madrugada deste sábado (4). Por volta de 0h21, a juíza Andréa Calado leu o resultado decidido pelo Corpo de Sentença dos jurados, por quatro votos a três. Antes de ser liberados, eles terão que voltar ao Cotel.

O advogado assistente da promotoria, José Siqueira, informou que irá pedir a anulação do júri, pois soube que "há uma forte suspeita de que, entre os jurados, havia um primo dos kombeiros". A acusação também entrará com um recurso de apelação junto ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) por decisão contrária à prova.

O último dia foi marcado pelo debate entre a acusação e a defesa. O primeiro a falar foi o promotor Salomão Abdo, que focou sua apresentação – durou uma hora – nos pontos importantes que a promotoria julgava serem fatos-chave para a condenação. A explanação foi feita em ordem cronológica.

Ele mencionou fatos como tentativa de descaracterização da Kombi, no final de semana do crime, e, também, a importância do testemunho de Regivânia, que disse ter reconhecido a fisionomia de Valfrido. Após a colocação de Salomão, a juíza Andréa Calado deu um intervalo de 10 minutos.

Na volta da suspensão, o restante da acusação apresentou sua tese. O promotor Ricardo Lapenda falou logo quando a sessão foi retomada. Ele disse que, antes de pedir a acusação dos réus, fez um auto-julgamento. Falou que, quando acha que alguém não cometeu o crime, pede a absolvição dos suspeitos, mas que esta não era uma dessas situações.

Em um discurso incisivo, ele apontou a contradição nos discursos de Valfrido em relação aos óculos. A forma como a segunda reconstituição foi coordenada por Vanja de Oliveira Coelho também foi questionada. “Ela chegou a desligar a placa luminosa de um bar. Imagine se, em pleno feriadão, o bar estaria fechado”, falou.

Outro ponto de destaque foi a relação do pai de Tarsila, José Vieira, com o caso. Ele lembrou que Vieira teve que enterrar a filha três vezes: uma vez quando os corpos foram achados e outras duas quando precisaram ser exumados para novos exames.

Em seguida, foi a vez de um dos advogados que auxilia a promotoria, Bruno Lacerda, falar. Dos que participaram do júri, ele é o que estava há mais tempo envolvido. No caso desde 2003, ele afirmou que só não chegou “antes dos monstros”. Ele falou que os irmãos suspeitos do crime possuem personalidades violentas e “trucidaram as duas meninas”.

Quando a acusação finalizou sua apresentação, foi a vez da defesa. O advogado Jorge Wellington falou durante as três horas reservadas à parte. Durante todo o discurso ele tentava desqualificar o trabalho da polícia. Além disso, disse que o processo estava “podre” e que ele era “indigno”.

Outro fato que foi constantemente pontuado por Jorge Wellington foi a ausência da Regivânia Maria da Silva. Para ele, se ela fosse uma testemunha essencial, deveria ter participado do júri. Além do caso em si, ele também tomou o partido do ex-defensor Miguel Sales, dizendo que ele é um “homem idôneo”.

Após um intervalo de quase uma hora, o julgamento foi retomado com a réplica, apresentada pela acusação. A promotoria rebateu todos os fatos pontuados pela defesa e apresentou um novo indício, que reforçaria a tese de que Tarsila teria sofrido abuso sexual. Na hora em que os disparos que causaram as marcas no vestido foram efetuados, a adolescente não estaria vestida com ele, mas sim o segurando nas mãos.

Logo depois, com um intervalo de apenas 15 minutos, a defesa iniciou a tréplica, já às 21h40. O advogado Jorge Wellington voltou a afirmar que não existem provas suficientes para que se condenassem os réus. Também voltaram a desqualificar o testemunho de Regivânia. Por fim, o advogado disse: “Os jurados tem que observar que na dúvida, o voto é pró-réu. Para condenar alguém, tem que ter provas robustas e evidentes. Não se pode brincar com a vida alheia”.

Pouco antes das 23h, a juíza Andréa Calado leu os itens de votação para os jurados, que se reuniram em sala secreta. Foram 10 perguntas a serem respondidas, que incluíram se os jurados julgavam que a morte das adolescentes foram causadas por tiros e se os kombeiros eram os autores do crime.

Enquanto os jurados estavam reunidos, manifestantes se reuniram em frente ao Fórum de Ipojuca. A grande maioria demonstrava apoio aos kombeiros, chegando a gritar os nomes de Marcelo e Valfrido Lira. O batalhão de choque da Polícia Militar foi chamado para que as pessoas não tentassem invadir o prédio.

O JULGAMENTO

Iniciado às 9h da segunda-feira (30), o julgamento é tido como um dos mais longos da história de Pernambuco. Ao todo, 19 pessoas prestaram depoimentos: 10 testemunhas de defesa, duas de acusação, cinco peritos e os dois réus.

O primeiro dia foi marcado por bate-boca, quando Cláudio Venâncio, delegado da Policia Federal, atacou o ex-promotor Miguel Sales, o acusando de ter atrapalhado as investigações. Também aconteceu o primeiro atrito entre o promotor Ricardo Lapenda e o advogado de defesa Jorge Wellington, quando o primeiro acusou o ex-defensor José Francisco Nunes de falso testemunho. Também ocorreu uma acareação não programada entre o ex-defensor e o pai de Maria Eduarda, o empresário Antônio Dourado. Foram ouvidas as duas testemunhas de acusação e duas de defesa.

O depoimento de oito testemunhas de defesa marcou o segundo dia. Os testemunhos tomaram todo o dia. Além delas, uma das cinco peritas prestou esclarecimento. Diferentemente do que ocorreu na segunda, a terça-feira (31) foi tranquila, sem nenhum grande embate pessoal entre os envolvidos.

Três peritos apresentaram a parte técnica das investigações na quarta-feira (1º). O dia também foi cercado por atendimentos médicos. Um dos réus (Marcelo Lira), três membros do júri, um oficial de Justiça e peritos sofreram picos de hipertensão e precisaram ser medicados. O ex-promotor Miguel Sales foi internado em um hospital do Recife.

A quinta e última perita apresentou as conclusões do laudo da última reconstituição do caso, em novembro de 2007, na quinta-feira (2). Segundo ela, Regivânia Maria da Silva, apresentada pela promotoria como principal testemunha, não teria condições de reconhecer a Kombi e as pessoas que estavam no interior do veículo. À tarde, defesa e acusação apresentaram suas provas. A promotoria apresentou interceptações telefônicas e depoimentos gravados em vídeo, falando sobre os óculos que estavam em pose do réu Valfrido Lira. Já a defesa leu o depoimento de cinco peritos, que indicavam que Tarsila pode ter sido estrangulada e Maria Eduarda morta antes dos dois tiros.

O quarto dia também contou com um dos momentos mais esperados do júri: o depoimento dos réus. Eles foram ouvidos separadamente e cada um podia se estender por até duas horas. No entanto, juntando os dois depoimentos, a duração foi de 1h15.

A sexta-feira (3) – último dia do júri – foi reservada para o debate entre as partes e a sentença do corpo de jurados.

O CASO

As adolescentes Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado foram passar um final de semana na casa de amigos na praia de Serrambi, Litoral Sul do Estado, e desapareceram no dia 3 de maio de 2003, após um passeio de lancha. Elas foram vistas pela última vez em Nossa Senhora do Ó. Dez dias depois, os corpos das duas foram encontrados pelo pai de Tarsila, José Vieira, em um canavial de Camela, em Ipojuca.

As investigações realizadas pela polícia levaram aos nomes dos irmãos Marcelo e Valfrido Lira, colocados como principais suspeitos. Eles foram denunciados pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e tentativa de estupro.

FONTE: pe360graus.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...